top of page

Neuroinfecções

Por Luana Lúlio e Gabriel Ayres

1 MENINGOENCEFALITES AGUDAS
São as neuroinfecções mais comuns. Podem ser causadas por agentes infecciosos, químicos e por invasão tumoral. A nível de definição, meningite seria uma inflamação das meninges, cursando principalmente com cefaleia e espasmo cervical (rigidez de nuca) e a encefalite é a inflamação do parênquima encefálico, que pode levar a diversas manifestações como crises convulsivas e sintomas neurológicos focais. Mais comumente ocorrem tanto meningite quanto encefalite → Meningoencefalite.


1.1 Meningoencefalites bacterianas


São transmitidas através de gotículas e secreções das vias respiratórias, sendo necessário contato íntimo ou direto com as secreções da pessoa infectada e os principais agentes etiológicos são: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Mycobacterium tuberculosis e Haemophilus influenzae.
O quadro clinico é grave e se caracteriza por febre, cefaleia intensa, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostração, confusão mental e sinais de irritação meníngea acompanhados por alterações no liquor.
O diagnostico laboratorial é realizado principalmente através do exame do liquor (quimiocitologia, bacterioscopia direta, cultura). Aumento da contagem de células com predomínio de neutrófilos, elevação da quantidade de proteínas e diminuição acentuada da glicose sugerem etiologia bacteriana.
O tratamento é feito de acordo com a idade, conforme demonstrado no quadro:

Neuroinfecções LINN1.png

A Quimioprofilaxia para contactantes só é feita quando a infecção é causada por N. meningitidis ou por H. influenzae, pode ser feita com rifampicina (600mg 12/12h por 2 dias na meningite meningocócica e por 4 dias no caso do Haemophilus) ou Ciprofloxacino (500mg dose única). Deve ser administrada a pessoas que tiveram contato íntimo com o doente por até 7 dias desde o inicio dos sintomas.


A N. meningitidis também pode causar meningococcemia, com ou sem meningite, caracterizada por um exantema (rash) eritematoso e macular no início e que evolui para exantema petequial.


As principais complicações das meningites bacterianas são: perda da audição, distúrbio de linguagem, retardo mental, anormalidade motora e distúrbios visuais.


1.2 Meningoencefalites virais


Os principais agentes etiológicos são os enterovírus: poliovírus, echovirus e coxsackie; o Herpes vírus é responsável por apenas 0,5-3% das meningites virais agudas. A doença geralmente evolui de forma benigna e os menores de 5 anos são a faixa etária de maior risco.


Clinicamente pode se manifestar através de síndrome infecciosa (febre/hipotermia, anorexia, apatia), síndrome de irritação radicular (rigidez de nuca, sinais de Lasegue, Koernig e Brudzinski), síndrome de hipertensão intracraniana e síndrome encefalítica (sonolência ou agitação, torpor, coma).


O diagnóstico laboratorial é realizado através do exame do liquor: líquido claro, contagem de células aumentada com predomínio de linfócitos, proteína, cloreto e glicose normais ou com discreta elevação.


O tratamento é de suporte: antitérmicos, antieméticos, cabeceira elevada a 30º. Se o paciente estiver sonolento, confuso ou com dificuldade de deglutição manter sonda nasogástrica para hidratação adequada e evitar broncoaspiração. Em casos de meningoencefalite por herpes vírus está indicado o uso de aciclovir 10mg/kg 8/8h durante 14 a 21 dias.


2 NEUROESQUISTOSSOMOSE


Doença causada pela deposição de ovos de Schistossoma mansoni no SNC. O processo inflamatório imunoalergico é acompanhado de pleocitose por células linfomonocitárias, presença variável de eosinófilos e aumento das proteínas do liquor.


O quadro clinico é caracterizado por paraparesia de evolução progressiva na maioria das vezes e, às vezes, paraplegia; paraparestesia e hipoestesia em região selar (S1 a S5); alterações esfincterianas vesical e retal, tanto com incontinência quanto com retenções e impotência sexual. Na presença do quadro descrito associada a forte dor lombar baixa e relacionada a esforços físicos executado no dia anterior ou esforço evacuatório deve-se suspeitar de neuroesquistossomose. Quase sempre há história de infestação recente (contato com água contaminada entre 6 meses e 1 ano).


O diagnostico laboratorial é feito através do exame parasitológico de fezes, reações sorológicas e biopsia retal.


O tratamento é feito com praziquantel (40-60mg/kg, dose única) associado a corticoesteroide.


3 NEUROSSÍFILIS


Designa todas as formas de comprometimento do Sistema Nervoso Central (SNC) causadas pelo Treponema pallidum. Em imunocompetentes ocorre como manifestação terciária da sífilis. Em pacientes imunocomprometidos, principalmente os portadores de HIV, pode ocorrer também na fase secundária da doença.


Quanto ao quadro clínico a neurossífilis pode ser:
Assintomática: Anormalidades no exame do liquor sem sintomatologia
Sintomática:

  •  Forma meningovascular: Meningites subagudas, arterites, mielopatias progressivas

  •  Forma parenquimatosa: São manifestações mais tardias da doença.

  1. Paralisia geral progressiva: Alterações cognitivas iniciais que evoluem para demência. Os primeiros sintomas incluem perda de memória, diminuição da capacidade intelectual e alterações de comportamento.

  2. Tabes dorsalis: caracterizada pela presença de parestesias, sobretudo nos membros inferiores e perda progressiva das sensibilidades proprioceptiva e vibratória.

O diagnóstico é baseado na história clínica, exame e avaliação de testes de sífilis no sangue e liquor. O tratamento é feito com penicilina G cristalina aquosa EV 12-24 milhões de UI de 4/4h por 14 dias.


4 NEUROCISTICERCOSE


A neurocisticercose é a infecção parasitária mais comum do SNC. Decorre da ingestão de água e alimentos contaminados com os ovos da T. solium ou do mecanismo da autoinfecção. Os ovos eclodem no intestino, atingem a circulação sanguínea e chegam ao SNC onde sofrem degeneração e passam por diversos estágios até calcificar o que desencadeia processo inflamatório intenso.


O quadro clínico é variado e depende da quantidade, localização e fase evolutiva dos cistos, assim como da imunidade do hospedeiro. As manifestações mais frequentes são: crises epilépticas, síndrome de hipertensão intracraniana, meningite cisticercótica e distúrbios psíquicos. Muitos pacientes podem ser assintomáticos.


O diagnóstico é feito através da avaliação clínica (procedência, hábitos alimentares), exames laboratoriais e de imagem. TC de crânio com presença de escólex indica fase aguda também é possível encontrar eosinofilorraquia.
 

O tratamento da fase aguda (presença de escólex na TC) é feito com albendazol ou praziquantel. Na infecção crônica o tratamento é apenas sintomático: manejo da HIC e antiepilépticos para controlar as crises convulsivas.

Neuroinfecções LINN2.png

TC de crânio sem contraste. Cistos com densidade próxima a do líquor e escólex visível

5 NEUROTOXOPLASMOSE


A neurotoxoplasmose é a infecção oportunista mais comum do SNC e ocorre em estágios avançados de imunossupressão. Manifesta-se como uma doença subaguda com cefaleia e febre, déficit neurológico focal, confusão geral e alteração do nível de consciência. Na maioria dos casos resulta de reativação de infecção latente.


Ao exame de imagem encontra-se lesão expansiva com edema vasogênico e captação anelar de contraste, sendo importante diferenciar de abscesso e tumor cerebral.


O tratamento é feito com sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico

Neuroinfecções LINN3.png

TC de crânio sem contraste. Cistos com densidade próxima a do líquor e escólex visível

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALVES, J.M.; MAGALHÃES, V.; MATOS, M.A.G. Retinocoroidite toxoplásmica em pacientes com AIDS e neurotoxoplasmose. Arquivos brasileiros de oftalmologia. vol. 73, nº 2, pg. 150-154, 2010.
BARROS, A. M. et al. Neurossífilis: Revisão clínica e laboratorial. Arquivos de medicina. vol. 19, nº 3, pg. 121-129, 2005


BETHLEM, E.P. Manifestações clínicas da tuberculose pleural, ganglionar, genitourinária e do sistema nervoso central. Pulmão RJ. vol 21, nº 1, pg. 19-22, 2012.


CAIXETA, L. et al. Neurossíflis: Uma breve revisão. Revista de Patologia Tropical. vol. 43, nº 3, pg. 121-129, 2014
DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIA. Meningites virais. Revista de Saúde Pública. Nº 40, vol. 4, pg. 748-750. 2006.


GUIMARÃES, R.R. et al. Neurocisticercose: Atualização sobre uma antiga doença. Revista neurociências. vol. 18, nº 4, pg. 581-594, 2010,


MATAS, S.L.A. Neuroesquistossomose. Revista Neurociências. nº 9, vol. 1, pg 27-31. 2001.


MARTINS, G.R.; TAKO, K.V. Neurocisticercose: uma revisão bibliográfica. Revista Uningá. nº 16, pg. 175-182, 2008


MARTINS, J.C.M.; CRUZEIRO, M.M.; PIRES, L.A. Neurotoxoplasmose e neurocisticercose em paciente com AIDS- relato de caso. Revista neurociências. vol. 23, nº 3, pg. 443-450, 2015.

bottom of page